Sunday 17 April 2011

Um pouco de geografia do Oriente Medio

Queridos amigos,

Obrigada a todos pelo apoio moral.
Estou mais calma agora. As bombas realmente cessaram por uns dias e ontem ja voltaram. Mas na verdade, esta é uma realidade a qual já estou acostumada. O "susto" desta vez foi por não saber onde estavam as meninas, se estavam protegidas ou não. Realmente, não desejo a nenhum pai/mãe passar por uma situação dessas. Seria como se a cria se perdesse na praia, por ex. durante um arrastão, sei lá, algo de gênero.

Entendo o que muitos de vcs colocaram sobre a ansiedade e ter data marcada para partir e que o calor, a violencia e tudo mais se tornam insuportaveis quando estamos prestes a partir, mas curiosamente, comigo funcionou de forma inversa: a maioria das coisas que me incomodam aqui em Israel passaram a incomodar menos ou não incomodar mais pois eu sei que não terei que conviver com elas pro resto da minha vida. Até a música oriental/mediterrânea que não aprecio e que toca na radio o tempo todo passou a ser suportável desde que o processo começou a chegar na etapa final. Inclusive as bombas … pois eu penso que logo logo minha realidade será outra.

Sobre mudar para um outro local, meu marido e eu achamos que faltando tão pouco para irmos não seria uma decisão inteligente pois além do ga$to que teríamos, implicaria tb mudar as meninas de escola, jardim de infância, pois aqui assim como no Canadá a instituição de ensino é de acordo com o local de residência. Seriam muitas mudanças em pouco tempo precedidas de uma enorme mudança (lingua, clima, ausência da família, etc.) Temos 4.5 meses pela frente e tudo indica que será quase "bombs free".

Como muitas perguntas foram feitas tb, resolvi explicar um pouco da geografia da questão, já que acho melhor não entrar na questão política, pois cada um tem sua visão e na verdade nao há mocinho e vilão, todos os dois lados sofrem, passam por situações difíceis e cidadãos inocentes ficam feridos e/ou morrem em ambos os lados da fronteira.



Eu moro no neste pontinho vermelho que aparece no mapa (fui eu quem colocou). Fica no litoral, na fronteira com a Faixa de Gaza. É um Kibbutz chamado Kibbutz Zikim.
http://en.wikipedia.org/wiki/Zikim

Neste link vcs podem ver um video do local e a moca que é entrevistada e minha amiga e vizinha. Uma bomba caiu na varanda da casa dela. Ela grávida e o filhinho ficaram levemente feridos (a parede da casa dela virou po): http://www.youtube.com/watch?v=bA4jTAbn8PE

Como vcs podem ver, o Kibbutz fica rente à fronteira e por isso as bombas caseiras tb caem aqui. As bombas convencionais caem no kibbutz quando são lançadas mais distante da fronteira.
http://en.wikipedia.org/wiki/Israeli_settlement

Antes do desocupamento da Faixa de Gaza (assentamentos judeus espalhados) as bombas não atingiam o territorio israelense pois eram lançadas muito de longe e quem sofria com a situaçao eram os judeus que moravam nesses assentamentos e tb a cidade de Sderot (no mapa) que desde 2001 tem sido bombardeada constantemente e intensivamente. A situção em Sderot amenizou desde que os palestinos comecaram a receber do Iran e da Russia bombas convencionais (cotnrabando de armas por tuneis escavados na fronteira Egito-Israel) e então o alvo passou a ser Ashdod (veja mapa abaixo) onde se encotnra o principal porto de Israel e um grande polo da indústria química.


Além da ameaça constante vinda da Faixa de Gaza há tb a Hezbalah, que tem um poder de fogo muito grande, com alcance de todo o território israelense praticamente, deixando à salvo somente a parte sul do deserto do Negev e Eilat, a cidade ao extremo sul na fronteira com o Egito e Jordânia e o Mar Vermelho. Vejam no mapa abaixo.



Bonne Chance! Paola

2 comments:

Drinho e Nessa said...

Olá Paola,
Como paulistano, sempre reclamei muito da violência urbana de São Paulo, mas ler o seu relato me fez refletir sobre o quanto reclamo "de barriga cheia" São tipos diferentes de violência, mas insuportáveis para quem as vive. Sobretudo, o q mais me chamou a atenção no seu relato, foi a afirmação de que não existe certo, não existe errado. Boa sorte a vc e à sua família!

César, Valéria, Lara e Anaclara said...

Sua postura está certíssima. Pra que deixar algo que está perto do fim te incomodar?

E a vida segue...