Monday, 8 November 2010

Coracao de uma imigrante (e mae)

Ontem a noite estava lendo uma historinha infantil para as meninas antes delas irem dormir. E uma rotina que achamos importante e um ritual de todas as noites. Era um conto da Ana Maria Machado, "O segredo da oncinha". Louise estava em volta brincando e Vitoria e Gabriela prestava atencao, ou quase prestavam atencao. Infelizmente, quando o conto infantil e em portugues elas estao menos concentradas que quando e em hebraico, especialmente a Gabriela que fica boiando muitas vezes. Como elas dominam o hebraico BEM melhor que o portugues eu faco um esforco bem grande para mante-las concentradas. Este fato por si so ja me incomoda e me doi o coracao, pois reflete uma realidade que me incomoda profundamente. Mas ontem isso se evidenciou ainda mais quando percebi que elas nao dominam tb expressoes como "pintar o sete" e muitas outras e assim elas perdem muitas "piadinhas" da historinha. Ontem quando eu li pintar o sete ninguem falou nada, e entao eu perguntei o que era e Vitoria respondeu que os bichinho pintavam o numero sete. Ja a Gabriela resolveu que ela nao deixavao bichinho pintar o sete, ela queria que ele pintasse o cinco.

Enfim, todo este bla-bla-bla e pra dizer a vcs que me deu um aperto no coracao ... e me perguntei o que estou fazendo (?). Antes, quando me deparava com uma situacao semelhante eu me consolava: _"Nao se preocupe, e so uma questao de tempo e vc ira embora de Israel". Mas hoje sei que isso nao me ajudara nesta questao especifica pois apesar de estar deixando Israel nao estarei indo pro Brasil e o hebraico sera substituido pelo ingles.
Embora eu nao tenha ainda chegado no Canada, ja sou veterana na vida de imigrante e tenho 15.5 anos de praia. Quando sai do Brasil em 1995 com meus 18 aninhos nunca imiginei as possiveis consequencias (positivas e negativas) deste ato. Apos me tornar mae foi que eu conheci um pouco do preco que se paga ao decidir criar e educar os filhos longe da minha propria cultura e lingua, pra nao falar tb da familia ... Computador aqui em casa e sinonimo de familia no Brasil, de vovo, de vovo, de tio e tia. (Gabriela muitas vezes quer dar algo pra eles pela tela do PC, ja a Vitoria que e maior entende que isso nao e possivel). Alem do mais nao e facil "enfrentar" os constantes pedidos de quero ir pro Brasil, to com saudade da vovo, eu quero comer carne igual a do Brasil, entre tantos outros. Eu nao sei se esta e a mesma realidade para quem chega com os filhotinhos ja crescidinhos, tendo o portugues bem enraizado como lingua materna, mas a questao da familia deve ser um denominador comum de todos nos.
Imagino que se fosse casada com um brasuca seria mais simples pois a lingua que falariamos dentro de casa seria o portugues, mas nao e o meu caso, embora o Gal saiba portugues geralmente falamos em hebraico.
Nao estou dizendo que nao ha solucoes, claro que ha. Mas sinceramente e humildemente sugiro a todos os futuros imigrantes que pensem bastante antes de dar o passo. Pensem no que vcs querem dar a seus filhos em todos os termos, nao so em questoes de seguranca etc. De qualquer forma ha coisas que so descobrimos no meio da caminhada, e cabe a nos encontrarmos solucoes criativas e inteligentes (pelo jeito e o que me falta no momento).

Beijos a todos!!
Paola


Bonne Chance! Paola

3 comments:

Cris Schultz said...

Olá Paola,

Realmente me questiono também sobre essa nossa decisão de imigrar. Confesso que agora que minha partida do Brasil está se aproximando chego a não dormir a noite de tanto pensar se essa é a escolha certa. Meus filhos estão com 13 anos, diria que nesta fase qualquer decisão é sem volta, isso me preocupa muito. Enfim, o que podemos fazer é pedir a Deus que nos dê sabedoria para encontrar as soluções criativas e inteligentes que vc mencionou.
Que a paz esteja com vc.

Anonymous said...

Oi Paola
Na verdade a vida e feita de escolhas. Quando dizemos sim para algo, estaremos dizendo nao para milhares de outras coisas. Por exemplo, quando falei SIM para minha esposa no altar... estava tb. falando um NAO para todas as outra mulheres do mundo.
Escolhas definem nosso futuro. Nao ha o que temer se vc as faz com consciencia e principalmente buscando a vontade de Deus. Quanto aos costumes, praticas e tradicoes brasileiras... obviamente perdemos alguma coisa. Mas, ao participarmos de uma comunidade genuinamente brasileira, voltada para a familia e com boas intencoes, pode-se manter quase que por completo... embora, nossos filhos sempre vao assimilar muito mais a cultura local. Em todos os casos Canada e Israel sao tao diferentes quanto agua e vinho, ao se comentar a cultura, costumes, religiao e etc... Por isso acho, que pelo menos neste quisito, vcs terao uma dificuldade em grau menor aqui no Canada...
Grande abraco
Celso

Carlos ( KK ) said...

Paola... faz parte. A crise do "O que estou fazendo?" me bateu na semana de vir embora. Mesmo que vc tenha 15 anos de praia, vc vai passar por mais uma mudança... e toda mudança é complicada e dá medo. Não se preocupe muito com suas meninas, pelos casos que vemos aqui, as crianças, normalmente tiram de letra.
Pode contar com a nossa ajuda!